Axé

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cola Cirúrgica

Algo se quebrou dentro dela. Só não se sabe quando, nem onde, ou como. Ser feliz é a meta, mas a obrigação de ser feliz é lhe um fardo pesado demais. Talvez seja apenas típica depressão adicta, tomara que seja, pensa. Menstruação? Já estava encarnada demais para por a culpa nos hormônios. Obriga-se então a vestir, dormir, andar e tarefas simples como escovar os dentes, e olha que odeia bafo, eram hoje um verdadeiro saco. Simples pensar lhe leva a conjecturar loucuras, então melhor não. Leva a abusar as pessoas, abusar dela mesma, abusar sua própria companhia. Abusar como um abusa-se um insuportável cheiro doce de coisas delicadas. Ela já teve preguiça, hoje tem muito é sono. Sono de pessoas e coisas que não consegue administrar. Algo em sua mente ferve, e em cada borbulhar explodem bolhas de pensamentos tristes, lamuriosos, intolerantes e acusadores. Ainda, alguns cacos de autopiedade dissolvendo-se em metades de esperanças ocas de que os segundos passem mais depressa e que um antídoto para sua ebulição venha de delivery. Mas para quê? Devagar, depressa, ontem, amanhã, tanto faz, tudo é a mesma puta coisa. Algo exterior a ela também se quebrou. E, não subestimem, ela pode enxergar isso a léguas. Será que enxerga demais? Estará ela louca, perdida dentro das suas próprias conjecturas? Procura então não pensar para que assim as bolhas cessem. Dizem que com cola cirúrgica as cicatrizes ficam quase imperceptíveis. Mas de que adianta se continuam feias de dentro para fora? E é assim que ela as vê, e não. Ela não as ama. “Alguém me sacuda e estapeie bem no meio da cara, por gentileza, pra ver se acordo”, ela suplica a si, numa piscada longa de olhos. Cadê o sopro de vida? Quem roubou? O sorriso largo, a gargalhada inconfundível, o fôlego, …Sabe lá. Seria bom se num breve telefonema alguem viesse devolver. solução é dizer a si mesma que está tudo bem. Uma hora ou outra e capaz de acabar ficando mesmo. Ou ainda sarcasticamente: “que pode ficar pior”, faz mais seu estilo. Depois de um suspiro quase rendido, decide terminar de ler seu presente. Clarisse sempre faz suas neuras voltarem para o tamanho que merecem.

Um comentário: